O que dá o mote e está na origem desta ideia pouco original
de inaugurar um blogue é mais ou menos previsível. Não é que me sinta obrigado
a esclarecer o porquê do Gato de Pavlov, como o cardeal Bergoglio se apressou a
explicar a razão de se ter quedado pelo cognome de Francisco. O importante é
perceber a razão e não a forma.
A verdade é que esta iniciativa resulta de um certo cansaço
dos meios de interação tradicionais. Tem-se tornado fastidioso assistir à
indignação geral que hoje passa obrigatoriamente pelo Facebook, tantas vezes
instigada pelas opiniões publicadas pelos ‘opinion
makers’. Todo esse folclore inconsequente me provoca náuseas. Toda a ilusão
de liberdade, de democraticidade, de debate saudável de opiniões não passa
disso mesmo, ilusão.
Não pretendo ser lido com simpatia nem mesmo que quem
acidentalmente se cruze comigo por cá concorde com as minhas opiniões. Muito
menos tenho a secreta pretensão comum a tantos bloguers de transformar o meu
blogue num local de romaria; em mais uma capelinha da rota de opinião.
É, isso sim, um espaço de libertação da vida quotidiana. Um
muro de lamentações. Um descampado virtual onde de quando em vez possa soltar
um grito de raiva ou de tremenda alegria. Em suma, um exercício de catarse
individual.
De onde surgiu então o nome?
Desde logo da minha afeição por felinos em geral e por gatos
em particular (tenho dois ‘filhos’ dessa espécie). Seguidamente, o carácter
experimental nada pavloviano mas ainda assim terapêutico, no sentido libertador
e espiritual.
Contrastando obviamente com o eterno rival doméstico, o gato
é uma animal pouco condicionável. Quem usufrui da companhia de um gato saberá
certamente do que falo. Talvez seja mesmo caso único no reino animal, esta relação
em que o suposto ‘dono’ acaba quase sempre como escravo dos desejos e
necessidades básicas do seu ‘subalterno’. Não dramatizemos, no entanto! É tudo
tão desproporcional, que não se pode falar de uma relação de poder. Gosto de
pensar nesta situação tendo como balizas a dependência patológica e a responsabilidade
de satisfazer as necessidades por ela criadas. Identifico-me com essa rebeldia,
essa deliciosa insubmissão que caracteriza a ligação entre o felino e o humano.
Finalmente, ligando um pouco com o início deste primeiro ‘post’,
sinto uma necessidade incrível de me libertar do condicionamento a que a
sociedade me tem submetido. Começando pelas relações familiares, passando pelo
ambiente de trabalho e culminado no sufoco em que se transformou a vida em
Portugal. Vão rareando os escapes aos quais podemos recorrer. As redes sociais
têm qualquer coisa de orwelliano que, mesmo sob declarado anonimato, condiciona
a livre expressão. Não pretendo também sujeitar a minha opinião ao escrutínio de
estranhos, que tantas vezes o fazem de forma ofensiva.
Bem sei que Pavlov numa fase final das suas experiências utilizou
a luz como instrumento de condicionamento das suas cobaias. Será que Passos Coelho
tem a pretensão de condicionar a reação dos cidadãos quando inclui a imagem
gasta da ‘luz ao fundo do túnel’ nos seus pobres discursos? Para este e outros
enigmas que atormentam o português médio irei aqui discorrer possíveis respostas.
Porque o pensamento é insondável e constitui o último reduto inviolável da liberdade
individual.
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