terça-feira, 16 de abril de 2013

Vai estudar, Dijsselbloem!

 
Pelos vistos, há mais uns ´Relvas’ por essa Europa fora!
Ainda o homem não aqueceu o lugar gentilmente oferecido pela chanceler, e já lhe começamos a descobrir as carecas. Que é como quem diz: o curriculum. Ou a falta dele…
Pena é que, tal como sucedeu com Relvas, estes ‘fait divers’ acabem por ocultar o mais grave, ou seja, a soma de erros no seu ainda curto percurso no comando do Eurogrupo. Chipre que o diga!
Também, de uma marioneta alemã pouco mais poderíamos esperar.

terça-feira, 9 de abril de 2013

The ironic lady

É absolutamente consensual:
Só pessoas dotadas de grande carácter e obstinadamente convictas do que pensam conseguem despertar em simultâneo ódios e paixões.
Jamais nos são indiferentes.

quarta-feira, 27 de março de 2013

A expressão e a impressão

O Português é a mais bela das línguas que conheço. Complexa, elegante, sonora e imensamente traiçoeira.
  
Mas não há bela sem senão!
 
Talvez seja defeito meu, mas como lhe presto constante reverência, nos momentos em que o feitio resolve amesquinhar-se um pouco ou tão-somente num daqueles instantâneos hiatos do dia-a-dia, dou por mim a embirrar com certas expressões.
 
Tenho tendência para a interpretação literal, embora me considere perspicaz a ler nas entrelinhas. Em muitas ocasiões este hábito torna-se enervante para quem tenha a infelicidade de partilhar comigo o momento. Resmungo. Possui-me uma espécie de alergia que me torna num ser irritante, de tão irritado.
 
Alguém consegue entender o sentido da utilização do termo ‘inválido’quando se pretende adjetivar um ser humano. É possível conceber um contexto digno para esta palavra quando o sujeito é alguém que apenas atingiu um estado de incapacidade física ou mental? Não fora um cidadão remediado, por mera dignidade linguística recusar-me-ia a receber uma pensão social de invalidez num futuro distante. Isto se por milagre me esperar esse tipo de esmola. Soa-me sempre mal, como soam todos os rótulos e carimbos a que muita gente se habitua a recorrer para generalizar ou simplificar, geralmente com pendor pejorativo.
 
Sim, a invalidez é um termo técnico! Sempre me questionei sobre o critério que torna um cidadão mais ou menos válido. Não é questão que me atormente – excluindo nos tais momentos ‘zen’-, pelo que nunca me dei ao trabalho de indagar o assunto com a profundidade que certamente mereceria. Imagino que tratando-se de um termo técnico e dada a natureza, haja uma fronteira cronológica a partir da qual nos tornamos inválidos para o mundo e sobretudo para o Estado. Talvez seja aquele momento em que, num sentido muito figurado, despimos as vestes humanas para nos tornarmos uma espécie de parasitas da camada ativa e produtiva. O início da capitulação. Aquela intermitência entre o quase vivo e o quase morto. Um fardo que importa arrumar e alimentar frugalmente num qualquer espaço esconso. Uma maçada para alguns políticos, um enigma para os demógrafos.
 
Houve em tempos alguém, ou alguéns, que teve a peregrina ideia de fundar uma nobre instituição de solidariedade social denominada Inválidos do Comércio. Por sinal, a antítese de tudo que me repele no termo. A frieza sentenciosa colada ao étimo. É um lugar onde a velhice é apenas um outro estágio da existência humana. Acolhe condignamente centenas de velhotes que entraram no ocaso deste grande dia que é a Vida. Apesar de continuar a considerar bolorenta e infeliz a aplicação do termo não deixo de sentir um carinho e respeito que instantaneamente neutralizam a minha ira.
 
Outro dos estigmas linguísticos que me irritam solenemente é a expressão ‘portador de deficiência’. Não raras vezes, para além da tendência indómita para ouvir/ler tudo no sentido literal, a minha mente tem o péssimo hábito de visualizar as expressões de forma quase cinematográfica. Já tentei entender qual a razão da maioria dos deficientes preferirem ser designados ou abordados como pessoas portadoras de deficiência. Estarei certamente enganado, mas para mim o ato de portar aplica-se sempre a um objeto. Implica um percurso com um ponto inicial e outro final. Infelizmente, a maioria das deficiências não correspondem a estados transitórios, sendo que muitas delas são genéticas, totais ou perpétuas (outro termo com o qual antipatizo).
 
Não me considero preconceituoso e tento encarar a vida de uma forma realista. Admito, porém, que um deficiente considere o meu raciocínio insensível e diferenciador. Não será por sentir pena, mas penso que um deficiente, seja qual for a natureza da sua condição, deve ter sempre mais direitos que qualquer pessoa na posse pretensamente plena das suas capacidades naturais.
 
Contudo, o termo cujo uso me causa uma espécie de urticária, sobretudo quando usado por jornalistas, é ‘encurralado’. Normalmente o que se pretende é passar a imagem de alguém que está cercado, acossado física ou intelectualmente, ou em muitas outras situações limite.
 
Ora, pelas mesmíssimas razões que já adiantei, o que eu visualizo mentalmente quando ouço esta palavra, independentemente do contexto onde se insira, é um curral. Um local onde se recolhem os animais. Obviamente que tal dedução se deve a um instinto mental que não consigo controlar. Todo este processo é automático e ocorre por continuidade lógica.
 
Não entendo o porquê de muitos jornalistas não tirarem partido do vasto e rebuscado vocabulário que a língua portuguesa proporciona. Alguns deles parecem-se mesmo com bestas encurraladas, encarcerados que estão entre o desejo de brilhar e os limites das suas capacidades intelectuais. E isto é bem mais humano do que possa parecer.

terça-feira, 26 de março de 2013

Das experiment


Conhecemos na última semana mais um capítulo da trágica decadência da velha Europa. Quiçá o derradeiro.
 
Não foi dignificante a postura dos parceiros da Zona Euro em toda esta novela em torno do resgate cipriota. É triste constar o grau avançado de ‘pavlovização’ a que desceram os titulares das pastas das Finanças europeus. Digo isto porque, como resulta óbvio da solução perfeitamente estapafúrdia adotada, todos sabemos que mandou quem sempre manda; obedeceu quem sempre obedece. Não se entende por isso esta pueril curiosidade dos jornalistas em busca dum culpado. Todos estamos carecas de saber quem é a cabecinha loira que impõe decisões e ao que se deve o unanimismo destas reuniões de farsa.
 
As regras destas cimeiras do Ecofin são tão apertadas - e os horários cada vez mais estranhos - que, excluindo a TVI, ninguém consegue furar o pacto de silêncio vigente. Todos estão vinculados ao que ali se passa. Entram com pose apressada, de peito feito paras as esfomeadas câmaras de televisão. Saem da arena como de uma sessão de hipnose. Estranhamente apáticos, vagos e catatónicos. Com um andar novo, como sarcasticamente diria um grande amigo meu.
 
Juro que senti pena do ar acossado de Vítor Gaspar com toda a oposição a morder-lhe as canelas, ainda sob efeito do jet lag - cumulativamente ao já popular ar anestesiado que lhe é característico – sem saber o que responder quando questionado sobre a idiotice que acabara de subscrever dias antes em Bruxelas. Escondido naquela pose sempre desconcertante, como se previa, não conseguiu esboçar uma razão inteligível que o ilibasse da participação de véspera naquela votação obviamente estúpida. Claro que também não teve coragem para ser honesto e confirmar o que a retorica da pergunta já indiciava, ou seja, que votou ‘com’a Alemanha. Apenas por que sim. Como sempre, aliás. Não há em Gaspar uma réstia de orgulho académico sequer, todo ele está alienado pelos germânicos.
 
Foi esta como poderia ter sido qualquer outra medida. Se por exemplo a solução passasse pela expulsão dos cipriotas da Zona Euro, estou certo de que o braço amestrado de Gaspar seria dos primeiros a erguer-se, tal o grau de ‘pavlovização’. Resta-me a secreta esperança de que a preguiça verbal do nosso querido ministro não se tenha propagado aos tendões e que no momento da votação o angulo gestual não se tenha ficado pelos arianos quarenta e cinco graus.

Desengane-se quem julga que esta gente se move abnegadamente, com sacrifício pessoal, pela salvação da Pátria. Ao contemplarmos com prudente distância percursos como os de Durão Barroso, Vítor Constâncio ou até de António Borges, todos entendemos as naturais aspirações do inenarrável Gaspar. Começando pela ridícula vénia a Wolfgang Shoeble e terminando neste recente episódio, poucas dúvidas restarão a quem quer que seja sobre o epílogo deste filme. Como em outras coisas, mas desde logo na previsibilidade do guião, a política e a pornografia são de fato idênticas.

No entanto, o que me inquietou de verdade foi a leitura que fiz de tudo isto. Só mesmo um leigo em Economia como eu poderia cerzir tais raciocínios. Todavia, a verdade é que são bastas as vezes em que dou por mim a ter medo dos meus raciocínios desconexos, de tão grande que é a percentagem de concretização.

Há uns anos assisti a um interessante filme alemão - uma exceção no panorama cinematográfico oriundo daquela paragens - que se intitulava “Das Experiment” (A Experiência). É uma película intrinsecamente germânica, áspera e autocrítica. Não conta interpretações gloriosas e a economia cénica é evidente. Mas ainda assim, é um filme extremamente interessante. Tem os ingredientes que considero essenciais num filme: argumento inteligente ou original e empolgamento do início ao fim.


Tentarei não entrar pelo enredo mas nos últimos tempos, como que de forma inconsciente, a minha memória revisita esse filme e traça paralelos involuntários. Pressinto que a Europa se perdeu irremediavelmente nos devaneios ideológicos e nos efémeros caprichos eleitorais de uma senhora. Um caminho sem volta que provavelmente acabará em guerra, num abismo que o velho continente tão bem conhece. É para mim inevitável não comparar as personagens desse filme com as cobaias da chanceler Merkel, que são os países mais periféricos e menos populosos da UE.

Já assistimos a tanto em tão pouco tempo, que tenho a plena convicção de que esta cimeira e o que dela resultou não foi um deslize mas sim um ensaio ou uma experiência (como no filme!) para um dos cenários que a Alemanha tem vindo a antecipar. Desde que se agudizou a situação na Grécia que a hipótese vem ganhando forma. As consequências são imprevisíveis, incluindo para uma economia sólida como a germânica. O Chipre, talvez a mais insignificante das economias da Eurozone, seria a cobaia perfeita para tentar uma bancarrota assistida (!). No fundo, um simulacro do que está prestes a acontecer a um núcleo de países com as mesmas características, apenas em escalas diferentes. É o desfecho inevitável.

Já li as teorias mais díspares sobre aquele memorável 'concílio'. Desde a insanidade até à falta de horas de sono, por entre a incredulidade e o escárnio muita gente palpitou sobre o assunto.

Relativamente a este assunto, sinto que perdi a fé e o humor. Fico-me pela secreta e premonitória teoria d'A Experiência.


sexta-feira, 22 de março de 2013

A primavera televisiva

É oficial: a silly season este ano chegou mais cedo!

O Poder transferiu-se em definitivo da Assembleia da República para os canais de televisão.
É um acontecimento histórico que convoca forçosamente uma reflexão coletiva sobre a democracia e, mais ainda, sobre a progressiva perda de valor do voto eletivo e da própria representatividade política.
É um sinal dos tempos. Um mau indício que reflete uma era historicamente conturbada. O mote foi dado em Itália, que curiosamente tem também em Berlusconi, dinossauro político oriundo dos mass media, um dos principais atores políticos.
O discurso político faz-se cada vez mais de sound bites e de imagens buriladas. O tempo em política pauta-se atualmente por meias horas de intervenções isoladas, com ou sem contraditório, consoante o formato televisivo.
Os pesos-pesados perfilam-se no rasto de dinheiro, protagonismo e de audiências. A política virou espetáculo. Um pouco à imagem dos reality-shows e da easy life que os rodeia, esta gente pretende um salário fixo, chorudo e poucas ou nenhumas responsabilidades. Este é o melhor dos mundos, se tivermos por ideal de mundo perfeito a abundante riqueza material.
Exemplo paradigmático desta realidade é a pré-anunciada intenção de António José Seguro, secretário-geral do Partido Socialista, sujeitar o Executivo a uma moção de censura. Isto sucede precisamente na véspera de um debate parlamentar de extrema importância política devido às circunstâncias especiais em que se realiza.
Não irá este anúncio esvaziar o conteúdo do debate? Não será este um tiro de pólvora seca? Corroborando o raciocínio, esta semana assistimos à aterragem quase simultânea de gente com bastante influência nos bastidores da política portuguesa. Mas não no Parlamento, onde agora, mais do que nunca, fazem imensa falta.
Tribunos excecionais, com carisma e experiência, como Lobo Xavier ou Pacheco Pereira; políticos experimentados como Pedro Santana Lopes, Luís Marques Mendes, Jorge Coelho, Bagão Félix, Carlos Carvalhas, Francisco Louçã ou José Sócrates; ou reconhecidos académicos como Adriano Moreira, Freitas do Amaral, Marcelo Rebelo de Sousa, Eduardo Paz Ferreira, Bacelar de Vasconcelos, Jorge Miranda, Gomes Canotilho. Seria um luxo ter todos estes intelectuais com a sua auctoritas na ‘casa da democracia’ a debater altruisticamente os problemas e as soluções pelas quais ansiamos. Eles mesmos, de forma traiçoeira, tentam fazer-nos crer que também têm esse desinteressado objetivo. Balelas! Apenas fazem pela sua vidinha.
Os próprios senadores (ex-Presidentes da República e ex-Primeiros Ministros), ao invés de marcarem presença num órgão consultivo pouco transparente e ineficiente, como é o Conselho de Estado, deveriam intervir ativamente no debate político, na medida das suas possibilidades.
Muitos deles tomaram as decisões que estiveram na origem dos problemas atuais. Eles, melhor do que ninguém, porque conhecem a matriz da política, conhecerão os mecanismos mais eficazes para desativar a bomba que está armada e em contagem.
É confrangedor ouvir a maioria das intervenções que se fazem na Assembleia da República, tal a falta de conteúdo, o nível quase brejeiro da linguagem e a postura pouco solene. Um deputado tem de ser alguém vivido, com um percurso impoluto e reconhecida experiência profissional. Em suma: um exemplo. A escada para o Poder não pode partir das juventudes partidárias e das falsas licenciaturas.
Tem de haver mérito inquestionável e a moralização é imprescindível. É fundamental que os eleitores acreditem nos seus representantes, isto para que no futuro mais próximo não cheguemos à caricata conclusão de que a Grândola Vila Morena terá sido o discurso mais interessante que se ouviu na casa da democracia. 

domingo, 17 de março de 2013

Preâmbulo

O que dá o mote e está na origem desta ideia pouco original de inaugurar um blogue é mais ou menos previsível. Não é que me sinta obrigado a esclarecer o porquê do Gato de Pavlov, como o cardeal Bergoglio se apressou a explicar a razão de se ter quedado pelo cognome de Francisco. O importante é perceber a razão e não a forma.

A verdade é que esta iniciativa resulta de um certo cansaço dos meios de interação tradicionais. Tem-se tornado fastidioso assistir à indignação geral que hoje passa obrigatoriamente pelo Facebook, tantas vezes instigada pelas opiniões publicadas pelos ‘opinion makers’. Todo esse folclore inconsequente me provoca náuseas. Toda a ilusão de liberdade, de democraticidade, de debate saudável de opiniões não passa disso mesmo, ilusão.
Não pretendo ser lido com simpatia nem mesmo que quem acidentalmente se cruze comigo por cá concorde com as minhas opiniões. Muito menos tenho a secreta pretensão comum a tantos bloguers de transformar o meu blogue num local de romaria; em mais uma capelinha da rota de opinião.

É, isso sim, um espaço de libertação da vida quotidiana. Um muro de lamentações. Um descampado virtual onde de quando em vez possa soltar um grito de raiva ou de tremenda alegria. Em suma, um exercício de catarse individual.
De onde surgiu então o nome?
Desde logo da minha afeição por felinos em geral e por gatos em particular (tenho dois ‘filhos’ dessa espécie). Seguidamente, o carácter experimental nada pavloviano mas ainda assim terapêutico, no sentido libertador e espiritual.

Contrastando obviamente com o eterno rival doméstico, o gato é uma animal pouco condicionável. Quem usufrui da companhia de um gato saberá certamente do que falo. Talvez seja mesmo caso único no reino animal, esta relação em que o suposto ‘dono’ acaba quase sempre como escravo dos desejos e necessidades básicas do seu ‘subalterno’. Não dramatizemos, no entanto! É tudo tão desproporcional, que não se pode falar de uma relação de poder. Gosto de pensar nesta situação tendo como balizas a dependência patológica e a responsabilidade de satisfazer as necessidades por ela criadas. Identifico-me com essa rebeldia, essa deliciosa insubmissão que caracteriza a ligação entre o felino e o humano.
Finalmente, ligando um pouco com o início deste primeiro ‘post’, sinto uma necessidade incrível de me libertar do condicionamento a que a sociedade me tem submetido. Começando pelas relações familiares, passando pelo ambiente de trabalho e culminado no sufoco em que se transformou a vida em Portugal. Vão rareando os escapes aos quais podemos recorrer. As redes sociais têm qualquer coisa de orwelliano que, mesmo sob declarado anonimato, condiciona a livre expressão. Não pretendo também sujeitar a minha opinião ao escrutínio de estranhos, que tantas vezes o fazem de forma ofensiva.

Bem sei que Pavlov numa fase final das suas experiências utilizou a luz como instrumento de condicionamento das suas cobaias. Será que Passos Coelho tem a pretensão de condicionar a reação dos cidadãos quando inclui a imagem gasta da ‘luz ao fundo do túnel’ nos seus pobres discursos? Para este e outros enigmas que atormentam o português médio irei aqui discorrer possíveis respostas. Porque o pensamento é insondável e constitui o último reduto inviolável da liberdade individual.